Data: 21-03-2014
Criterio: B1ab(i,ii,iii)+2ab(i,ii,iii)
Avaliador: Raquel
Revisor: Luiz Santos
Analista(s) de Dados: Roberta Hering
Analista(s) SIG: Marcelo
Especialista(s): Alexandre Quinet
Justificativa
Espécie endêmica da Bahia, é encontrada nos Campos Rupestres da porção central da Chapada Diamantina (Groppo, 2007; 2009; 2013), no município de Mucugê (CNCFlora, 2013). Apresenta EOO de 124 km², AOO de 12 km² e está sujeita a três situações de ameaça considerando suas localidades de ocorrência. As atividades como o turismo desordenado (Tanan & Chaves, 2012; ICMBio, 2013), a agricultura, pecuária e mineração e o aumento da frequência de incêndios de origem atrópica (MMA/ICMBio, 2007; Tanan & Chaves, 2012), implicam um contínuo declínio da EOO, AOO e qualidade do hábitat. Apesar de protegida pelo Parque Nacional da Chapada Diamantina (Groppo, 2007), há uma grande preocupação quanto ao seu estado de conservação, visto que as ameaças incidentes ocorrem inclusive no interior da Unidade de Conservação, havendo a necessidade de maiores investimentos e esforços para controle e manejo dessas atividades.
Atenção: as informações de taxonomia atuais podem ser diferentes das da data da avaliação.
Nome válido: Ilex mucugensis Groppo;
Família: Aquifoliaceae
Espécie descrita em Bot. J. Linn. Soc. 155(1): 153 (-156; fig. 1). 2007 [10 Sep 2007]. Pode ser facilmente identificada caules retos, eretos, pouco ramificados e pelas minúsculas folhas coriáceas, cordiformes, patentes dispostas em entrenós muito curtos (Groppo, 2007). Os entrenós apresentam aparência de folhas imbricadas no material seco (Groppo, 2007). É morfologicamente mais semelhante a I. aurícula, especialmente nas características do caule, as folhas patentes e as inflorescências simulando 3-5 (-7) fascículos florais, escondidas entre as folhas (Groppo, 2007).
Espécie endêmica do Brasil, ocorre na região Nordeste, na Bahia, porção central da Chapada Diamantina (Groppo, 2007; 2009; 2013), no município de Mucugê (G. Hatschbach 47505b; S.A. Mori 13162). Ocorre a 1.000 m de altitude (Groppo, 2007).
Arbusto de 2 a 2.5 m, escandente (S.A. Mori 13162). Ocorre no bioma Cerrado, em Campos Rupestres da porção central da Chapada Diamantina e em Mucugê (Groppo, 2007; 2013).
A espécie é dióica, porém são conhecidas apenas flores masculinas, sendo necessárias a coleta de flores femininas e frutos para a melhor caracterização da espécie (Groppo, 2007). Foi coletada com flores nos meses de janeiro, dezembro e julho (Groppo, 2007).
1.3 Tourism & recreation areas
Incidência
regional
Severidade
medium
Detalhes
O PARNA da Chapada Diamantina possui status de Unidade de Conservação de proteção integral mas, ao mesmo tempo, sofre com as ameaças constantes da ação predatória dos turistas, sendo o principal destino ecoturístico da Bahia e um dos mais visitados do Brasil (Spinola, 2005). Atualmente, o PARNA da Chapada Diamantina carece de meios para organização e controle da visitação (ICMBIO, 2013). No município de Mucugê, o turismo gera impactos ambientais diretos como lixo e aumento da frequência de incêndios antrópicos, causados por visitantes que saem das trilhas sem a orientação necessária (Tanan & Chaves, 2012).
7.1.1 Increase in fire frequency/intensity
Incidência
local
Severidade
medium
Detalhes
Queimadas são freqüentes na Chapada Diamantina (Tanan & Chaves, 2012). Os incêndios na região são predominantemente de origem antrópica, com motivações variadas: o uso do fogo está ligado a quase todas as atividades tradicionais da região, econômicas ou não, inclusive no interior do PARNA da Chapada Diamantina (MMA/ICMBio, 2007). No município de Mucugê, os incêndios são provocados também por atividades ligadas ao garimpo e turismo (Tanan & Chaves, 2012).
2.1.3 Agro-industry farming
Incidência
local
Severidade
very high
Detalhes
Nos municípios de Mucugê e Ibicoara, na região da Chapada Diamantina, estão concentrados 88% da produção agrícola da região de seis municípios relacionados ao PARNA da Chapada Diamantina (MMA/ICMBio, 2007). A agricultura de irrigação com tecnologias modernas e, em grande proporção, promove impactos, diretos ou indiretos, na economia e no meio ambiente (MMA/ICMBio, 2007).
2.1.2 Small-holder farming
Incidência
regional
Severidade
high
Detalhes
Em pequenas e médias propriedades o principal impacto ambiental é decorrente da supressão de vegetação, sendo frequentes, na Chapada Diamantina, o cultivo de roças em áreas de preservação permanente (MMA/ICMBIO, 2007). Além disso, é comum a utilização de biocidas e adubos químicos sem receituário agronômico e sem acompanhamento técnico, sendo a venda fracionada de agrotóxicos (prática ilegal em todo o país) muito difundida entre os pequenos comerciantes da região (MMA/ICMBIO, 2007). Tais práticas têm conseqüências certas como o alto potencial de poluição de corpos d’água (subterrâneos e superficiais), de solos, do ar e grande risco à saúde pública (MMA/ICMBIO, 2007).
2.3.2 Small-holder grazing, ranching or farming
Incidência
regional
Severidade
very high
Detalhes
O uso do pasto nativo é prática muito comum entre os pecuaristas na área do PARNA da Chapada Diamantina (MMA/ICMBio, 2007). As áreas dos campos gerais do PARNA da Chapada Diamantina sempre foram utilizadas por permanecerem úmidas o ano todo, situação importante e desejada para os criadores em lugares com marcado período de seca (MMA/ICMBio, 2007). Atualmente, algumas ações do IBAMA praticamente a erradicaram a prática, embora, esporadicamente, saiba-se da existência de alguns animais domésticos nos gerais do Parque (MMA/ICMBio, 2007). Essa prática provoca sérios impactos ambientais negativos como: compactação do solo e nascentes, pisoteio de plantas, formação de sulcos e erosão, alteração nas condições de umidade do solo e do papel dos gerais no regime hidrológico, favorecimento de espécies invasoras, disseminação de doenças para mamíferos silvestres, contaminação da água pelas fezes dos animais, presença de pessoas estranhas ao funcionamento da unidade de conservação e aumento na ocorrência de incêndios (MMA/ICMBio, 2007).
4.1 Roads & railroads
Incidência
local
Severidade
high
Detalhes
Estradas vicinais não pavimentadas e uma rodovia estadual asfaltada (a BA-142) foram consideradas no zoneamento do PARNA da Chapada Diamantina constituindo a Zona de Uso Conflitante (MMA/ICMBio, 2007). O trânsito de veículos, é fonte de emissão de gases poluentes e metais
pesados, de atropelamento da fauna nativa e servem como barreira para o fluxo de algumas espécies da biota (MMA/ICMBio, 2007). Nas rodovias asfaltadas esses fatores são potencializados e há uma impermeabilidade no seu leito, modificando o regime natural de escoamento da água nas suas
proximidades (MMA/ICMBio, 2007). Por outro lado, nas estradas não-asfaltadas, partículas sólidas em suspensão (poeira), afetam a respiração da vegetação marginal, e há também o assoreamento e a turbidez de cursos d’água próximos(MMA/ICMBio, 2007). Dos seis registros da espécie, três foram encontrados em margem de estradas de Mucugê (S.A. Mori 13162; A.M. Giulietti CFCR 1454; M. Alves 54).
3.2 Mining & quarrying
Incidência
regional
Severidade
very high
Detalhes
O garimpo de diamantes, atividade histórica e de ocupação pós-indígena da região, foi uma prática econômica que deixou vestígios e impactos ambientais negativos de grande visibilidade na área do PARNA da Chapada Diamantina, haja vista a drástica alteração geomorfológica, vegetacional, hidrológica e em todos os processos ecológicos que os integra (MMA/ICMBio, 2007). Nos primeiros anos após a criação do Parque, o garimpo continuou no seu interior, inclusive com utilização de dragas; havendo em 1996, uma grande operação coordenada por órgãos governamentais estaduais e federais para fechar os garimpos na área, reduzindo a intensidade do garimpo significativamente sem, no entanto, extinguir-lo completamente. Porém, há informações sobre o aumento contínuo da atividade na área do Parque, inclusive com a utilização de maquinário (MMA/ICMbio, 2007). Além dos impactos ambientais negativos da atividade per se, existem outras a ela relacionadas, como o fogo para limpar a área, a caça e a introdução de espécies exóticas no interior da Unidade (MMA/ICMBio, 2007). Um evento mais recente é o garimpo de cristais de quartzo, vendidos localmente, inclusive para turistas, trazendo conseqüências semelhantes aos do diamante, ainda que em circunstâncias e atores novas, com as quais o órgão gestor do PARNA da Chapa Diamantina terá que lidar (MMA/ICMBio, 2007). Outras atividades minerais no interior do Parque são a extração de pedras, areia e argila para a construção civil, entre os problemas inerentes a este tipo de atividade aponta-se a degradação da APP, o assoreamento e a poluição da água, o trânsito de veículos e de pessoas estranhas e sem autorização na Unidade de Conservação e o risco de novas invasões para fixação de trabalhadores no local, em moradias improvisadas (MMA/ICMBio, 2007).
5.2 Gathering terrestrial plants
Incidência
regional
Severidade
very high
Detalhes
A coleta de sempre-vivas e de outras plantas ornamentais na área do Parque Nacional da Chapada Diamantina também é um problema antigo e recorrente (MMA/ICMBio, 2007). Há registros de empresas do sul do país que, no passado, chegavam à região para buscar toneladas de flores e, indicações atuais de empresas estrangeiras que chegam à região para adquirir o produto e levar para o exterior (MMA/ICMBio, 2007). Um dos maiores problemas é que a principal espécie coletada é endêmica de Campos Rupestres da chapada Diamantina, ocorrendo no PARNA da Chapada Diamantina e, portanto, com distribuição muito restrita e com maiores riscos de extinção. Um agravante é que o fogo também faz parte do manejo destes coletores, uma vez que acreditam que os incêndios criem melhores condições para que os "novos indivíduos" sejam mais vigorosos no próximo ano (MMA/ICMBio, 2007). Os gerais do município de Mucugê é considerada uma das principais áreas de coleta (MMA/ICMBio, 2007).
8.1 Invasive non-native/alien species/diseases
Incidência
regional
Severidade
very high
Detalhes
O capim gordura, Melinis minutiflora, é a espécie vegetal exótica mais amplamente disseminada no PARNA da Chapada Diamantina e região (MMA/ICMBio, 2007). Na chapada Diamantina, ocupa os taludes das encostas da serra do Sincorá e, em extensas áreas mineradas no passado, competindo com espécies nativas, especialmente, de formações relacionadas ao Cerrado e em Campos Rupestres (MMA/ICMBio, 2007).
5.1.1 International level
Situação: on going
Observações: Ilex mucugensis é conhecida a partir de única localidade e apresenta uma EOO estimada inferior a 5000 Km², podendo assim, ser considerada "Em Perigo", de acordo com o critério B1a, levando-se em conta os critérios adotados pela IUCN (2001) (Groppo, 2007).
1.1 Site/area protection
Situação: on going
Observações: Há registro da espécie no PARNA da Chapada Diamantina (Groppo, 2007). Entretanto, o Parque carece de recursos e organização para colocar seu plano de manejo em funcionamento e regular as atividades na Unidade (MMA/ICMBio, 2007).
- Groppo, M. 2013. Aquifoliaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB114580>
- Groppo, M. Aquifoliaceae. 2009. In :Plantas raras do Brasil (orgs.) Giulietti, A.M.; Rapini, A.; Andrade, M.J.G. et al – Belo Horizonte, MG : Conservação Internacional. Co-editora: Universidade Estadual de Feira de Santana. 496p.
- Groppo, M. 2007. A new species of Ilex (Aquifoliaceae) from Espinhaço Range, Bahia, Brazil. Botanical Journal of the Linnean Society, 155:153–156.
- ICMBio. 2013. Parque Nacional da Chapada Diamantina. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/caatinga/unidades-de-conservacao-caatinga/2129>. Acesso em 22 de agosto 2013
- MMA/ICMBio. 2007. Plano de Manejo para o Parque Nacional da Chapada Diamantina – Versão Preliminar. Presente em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-unidades-coservacao/parna_chapada_diamantina.pdf>. Acesso em 03 setembro 2013.
- Tanan, K. C. R.; Chaves, J. M. A. 2012. Educação ambiental como prática propostiva na intervenção das queimadas no município de Mucugê, Chapada Diamantina. 1º Seminário Nacional de Geoecologia e planejamento territorial e 4º Seminário do Geoplan. Aracajú, SE. Disponível em : <http://anais.geoplan.net.br/trabalhos_formatados/A%20EDUCACAO%20AMBIENTAL%20COMO%20PRATICA%20PROPOSITIVA.pdf>.
CNCFlora. Ilex mucugensis in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora.
Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Ilex mucugensis
>. Acesso em .
Última edição por Lucas Moulton em 07/11/2014 - 13:48:45